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Dados da escola vazaram na internet. E agora?

Por Flávia Vivaldi

O que fazer diante de uma tempestade de acontecimentos inesperados e graves o suficiente para alimentar comentários inóspitos acerca de um trabalho realizado ao longo de 70 anos?

Pois bem! Foi exatamente essa pergunta que ecoou no Colégio Bandeirantes, em São Paulo. Na segunda-feira da semana passada, a direção da escola foi surpreendida pela notícia do vazamento de informações sigilosas contidas no espaço virtual exclusivo da orientação educacional. Os registros das reuniões de séries ocorridas entre 2007 e 2012 foram divulgados não só no WhatsApp de um grupo de alunos, como também em diversos sites. Assim como não há possibilidade de conter um tsunami, é quase impossível controlar a propagação de informações que caem na rede. A partir disso, um enorme desafio se apresenta para toda a instituição. Não cabe aqui restringir nosso olhar para questões como: houve falha ou não? E se houve, de quem? Nossa intenção é maior e mais nobre. Queremos compartilhar o que tivemos a oportunidade de viver e aprender com aquela comunidade nesse contexto de crise.

Ao longo da semana, inúmeras providências foram tomadas buscando uma reparação junto às famílias envolvidas e evitar danos ainda maiores. Enquanto eram tomadas as medidas legais para interdição do material em novas postagens, uma equipe de profissionais dedicou-se exclusivamente ao contato e atendimento a alunos e familiares. Logo no início dessa dinâmica, foi identificado o aluno que havia repassado para os colegas um vídeo com os registros da orientação. A direção, em conversa com o estudante e o responsável por ele, e mediante a ponderação sobre a seriedade de compartilhar documentos sigilosos, evidentemente se valeu do regimento interno – que todas as escolas têm – e aplicou a sanção prevista para casos extremos de desrespeito às normas de convivência: uma suspensão de oito dias. Os colegas de turma, ao tomarem conhecimento, se incomodaram principalmente pelo fato de que, com isso, o amigo perderia um simulado agendado para o sábado.

Na quarta–feira (18/03), a escola foi informada que os alunos do 3º ano do Ensino Médio fariam, na manhã do dia seguinte, um protesto contra a punição aplicada ao colega responsável por fazer e compartilhar o vídeo gerador da insegurança e do mal-estar sentidos por todos os envolvidos naquele contexto – professores, gestores, alunos, orientadores e pais. Os estudantes disseram estar dispostos a aguardar por até 12 horas, se necessário fosse, para ler o manifesto que haviam escrito à direção. No entanto, embora o desejo maior daqueles jovens fosse uma reunião com o diretor presidente da instituição, para eles, isso não passava de uma possibilidade remota. Mas o diretor já tinha se disponibilizado a atendê-los e aguardava somente nossa chegada, atendendo ao nosso pedido.

Quando a formação moral e a convivência democrática fazem diferença

Desde 2012, o Colégio Bandeirantes promove formações internas sobre temas ligados às relações interpessoais. No ano passado quem assumiu os estudos com a equipe foi a pesquisadora Telma Vinha, do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e colunista de NOVA ESCOLA. As formações têm orientado os profissionais para que sejam implantadas nas salas práticas que favoreçam e promovam o desenvolvimento moral e social.  E eu, desde o ano passado, acompanho esse processo e participo das reuniões e encontros de estudo realizados sistematicamente. Diante disso, nada mais coerente do que a escola convidar a professora Telma (e eu) para participar da conversa entre os alunos e a direção.

Confesso que durante o trajeto até o colégio, a hipótese que mais nos preocupava era a de que os alunos poderiam não querer nossa presença durante o aguardado encontro. Afinal, nosso contato, até então, havia sido restrito à equipe de profissionais. Mas não foi o que aconteceu!

Ao entrar na sala onde todos esperavam o diretor presidente, fomos recebidas de maneira acolhedora e respeitosa pelos alunos representantes que, imediatamente, nos convidaram para integrar o grupo, já organizado em círculo. Interessante que para os alunos não bastava a presença de professores e orientadores, quem aguardavam ansiosamente era aquele que, para eles, naquele momento, representava a figura máxima de autoridade. Mesmo com todo o cuidado que pudessem ter com as palavras, os representantes dos estudantes deixaram claro para nós que só iriam iniciar o diálogo de fato quando pudessem ler o manifesto na presença do diretor. Felizmente, após poucos minutos, o professor Mauro de Salles Aguiar, que encabeça a gestão da escola, entrou na sala.

Os estudantes, ainda que surpresos pela concretização do tão esperado momento, agradeceram a presença dele e deram início à leitura. Após concluírem, com uma mediação atenta e sensível, fomos testemunhas do exercício vivo de uma convivência democrática. Não houve, em momento algum, a expressão de críticas ou julgamentos de valor, sempre presentes quando a intenção é apontar culpados. Diferente do que muitas vezes presenciamos em assembleias escolares, aqueles jovens escutavam, com atenção e consideração, tanto as falas dos pares quanto as da autoridade presente. Respeitaram com rigor a ordem das falas, organizada por um dos representantes. Adotaram as palmas diplomáticas (com as mãos para o alto, sem som) para que não houvesse a interrupção da assembleia. Demonstravam competência em perceber, reconhecer e coordenar as diferentes perspectivas presentes no episódio, argumentando com clareza e coerência. Enfatizaram o orgulho que sentem por pertencer àquela escola. Declararam respeito e reconhecimento pelo trabalho de seus professores.

A postura da direção, um misto de seriedade e acolhimento, incentivou a participação responsável de todos, sem, contudo, deixar de pontuar a gravidade da situação. Mediante a riqueza de argumentos, o diretor se comprometeu a retomar com o conselho a sanção dada ao aluno e fazer uma retratação pública sobre o ocorrido. Ainda no período da tarde, o conselho deliberou por uma redução nos dias de suspensão, entendendo que a sanção deveria ser disciplinar, e não acadêmica. Dessa maneira, foi dada ao aluno a opção de fazer o simulado já agendado.

Quanta aprendizagem em um único dia! Momentos preciosos para inúmeras reflexões, tais como: Será que temos consciência dos riscos que o mundo virtual pode oferecer – e os cuidados necessários para minimizá-los – quando a tecnologia é usada de maneira inapropriada? Será que realmente temos a consciência de que o trabalho com o conhecimento pautado em desafios cognitivos e experiências significativas faz diferença na qualidade argumentativa dos alunos? Será que temos consciência de que a adoção de novos paradigmas de Educação demanda competência, compromisso e, ao mesmo tempo, humildade – para reconhecer e querer aprender aquilo que não sabemos?

O episódio certamente fortaleceu a comunidade escolar do Colégio Bandeirantes. Os espaços sistemáticos de diálogos (assembleias) estão sendo implantados para os alunos e há por parte da equipe gestora e dos professores clara disposição para a continuidade dos estudos sobre um conteúdo que invariavelmente está fora dos programas de formação: as relações interpessoais e a convivência ética na escola.

Enfim, a uma comunidade escolar que se une diante de uma crise, todo o meu respeito!

 
 
 
   
 
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